sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Gabrielense vira notícia nacional após cirurgia de silicone, que segundo especialistas, o produto era de baixa qualidade

A esteticista gabrielense de 54 anos, Jany Ferraz, é uma das duas brasileiras que sofrem hoje as difíceis conseqüências do implante de próteses de silicone fabricadas pela empresa francesa PIP.
Em entrevista exclusiva ao Cenário de Notícias – Jornal Bom de Ler, Jany contou que no ano de 2005 teve um câncer de mama e foi obrigada a fazer uma cirurgia de retirada das mamas. Após alguns meses por ser mulher e jamais permitir acostumar-se com a idéia de sentir-se mutilada, Jany resolveu procurar uma clinica de implantação de próteses de silicone em Porto Alegre, com um médico que era de sua confiança. Foi quando todos os seus problemas começaram. O convênio de Jany cobria a implantação de um tipo de prótese, mas, após escutar o médico que, segundo ela, somente trabalhava com próteses da empresa PIP por julgar que eram as melhores e garantir que nenhum problema aconteceria com as mesmas pois, caso houvesse um acidente que ocasionasse a ruptura as mesmas o gel, por ser coesivo e não comum, não vazaria e uma espécie de cápsula se formaria e protegeria o gel. Mas não foi o que ocorreu.
Como Jany costuma realizar exames periódicos de seis em seis meses em função de já ter sofrido os danos de um câncer, foi constatado no ano de 2009 que a prótese tinha sido rompida. “Resolvi que não ligaria para a França, então entrei na internet e coloquei representantes da prótese PIP no Brasil e achei a EMI, uma importadora multinacional dessa prótese. Liguei para lá e eles disseram que mandariam uma outra prótese para meu médico assim que fosse enviado relatório do mesmo com todos os exames comprovando. Fiz vários exames, que foram caros, para comprovar que a prótese estava rompida. No momento que foi comprovado, eles disseram que me mandariam somente a prótese. Não pagariam a cirurgia e nem o tempo que eu estaria parada, fora das minhas atividades”, afirma a esteticista.
Foi em Janeiro de 2010 que a Anvisa largou uma nota dizendo que a prótese PIP tinha sido proibida no Brasil e na França estava causando problemas e que teria fechado a fábrica. Jany resolveu entrar na Justiça em março de 2010, pois tinha muita febre, dor e também estava preocupada em função da sua saúde. Sua advogada mandou um e-mail para a Anvisa comunicando que ela estava com a prótese rompida e Jany recebeu o número do protocolo de atendimento, sendo que agora a esteticista alega que a Anvisa teria negado que tivesse conhecimento de algum desses casos no Brasil.
“A minha foi a primeira prótese trocada ganha na Justiça, porque até então as pessoas que estão com essa prótese não tem nem conhecimento que tem direito. E se as pessoas ligarem para essa importadora, eles vão dizer que não tem obrigação, conforme a Lei do Consumidor, mas na realidade eles tem, ainda mais se a pessoa tiver um problema de saúde. Eu sei que na França o governo francês está pagando toda a reposição, toda a despesa, para quem teve problema de saúde. No Brasil a única que eu sei que foi dado solução foi a minha, mas tem uma moça no Rio que também ganhou na Justiça a reposição da prótese. As minhas próteses estão no fórum aqui em São Gabriel, dentro do meu processo, como prova pericial”, afirma.
Jany agora luta na Justiça para ser ressarcida pelos danos morais e materiais que sofreu, pois já teve toda a cirurgia de reparação, que custou cerca de R$ 14 mil custeada pela importadora.
Segundo a mesma, com a cirurgia os médicos procuraram aspirar o máximo de silicone que estava solto em seu organismo, pois dentro da prótese de silicone eles colocavam gel industrial, não era o gel coesivo. A empresa somente anunciava que o gel era coesivo e colocavam outro produto. A maior parte de seu sofrimento foi quando seu silicone rompeu e o gel se espalhou fazendo com que uma parte do silicone se instalasse embaixo do seu braço. “Minha luta agora é para ganhar essa outra causa, estou tentando reaver tudo que tive de prejuízo, pois durante todo esse ano de 2010, depois que sofri a cirurgia, que eles tentaram tirar todo o silicone e não foi possível, em agosto agora eu comecei a apresentar um quadro de exonofilia, que é um aumento excessivo dos glóbulos brancos. O normal do exame é de 40 a 500. Os meus exames estavam 3.200, uma coisa absurda. Comecei um tratamento e todos os meus sintomas eram de uma leucemia que ataca os ossos, tinha dores nos ossos, tinha dias que não tinha força para caminhar, então comecei a fazer uma investigação do porque meus glóbulos brancos estarem aumentando, sendo que três médicos não conseguiam descobrir. Toda semana eu ia a Porto Alegre fazer exames e não descobria qual era a causa, até que foi constatado que eu estava com células nielóides na minha medula óssea. Foi então que tiraram sangue do osso da minha bacia, que foi para São Paulo para um laboratório de genética para ver se o meu problema era realmente uma leucemia. Foram 25 dias da minha vida que foram um inferno. O que ocasionou essa minha doença foi o silicone que está embaixo do meu braço, que encapsulou e está me causando todo esse problema. Eu já nem sei mais quanto já gastei com isso, pois mesmo com convênio médico, alguns dos exames ele não cobre”, finalizou..
A empresa francesa acabou indo à falência e seu proprietário está foragido. A sede está abandonada, e muitas das 300 mil mulheres que no mundo todo tiveram implantes da PIP também se sentem como Jany: abandonadas.

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